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Da origem das tecnologias à sustentabilidade pós-pandemia

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5 de junho é o Dia Mundial do Meio Ambiente
5 de junho é o Dia Mundial do Meio Ambiente - Foto: Freepik

Por: Leonardo Francisco Stahnke

Acadêmico do Mestrado Profissional em Ambiente e Sustentabilidade, da Uergs Hortênsias.

O tempo, o espaço e o movimento são determinantes para a evolução de todas as coisas e seres que conhecemos. Segundo a Ciência, o Big-bang deu origem a isso e, a partir dele galáxias e infinitos sistemas planetários surgiram. Através do tempo, e por seu caráter fluido, átomos organizaram-se em substâncias inorgânicase formaram astros potentes como o Sol, e planetas com potencial, como nossa própria casa, a Terra.

Nosso planeta, como todos os outros, obedece às Leis Naturais, como a da gravitação, por exemplo – que faz com que planetas e planetas-anões orbitem sua estrela, e estes sejam orbitados por seus respectivos satélites naturais, quando existentes. As substâncias intergalácticas que formaram nossa geosfera rochosa também nos impõe essa mesma Lei e foi fundamental para a manutenção e adequação de nossa atmosfera aqui. Sem ela esses gases se dissipariam e não conseguiríamos manter o calor do Sol em nosso interior. Esse calor, presente também na parte interna do planeta, faz mover rochas e continentes inteiros. Afastou-os, aproximou-os, rebaixou-os e elevou-os, formando tão distintos relevos, que serviam também como recipientes para as transformações hídricas que aqui ocorrem.

O calor do Sol, gerou minerais tão diversos quanto o diamante e o grafite, o xisto e o ferro... e faz isso ainda hoje. O ciclo das rochas, embora aparentemente lento dentro de nossa percepção curta de tempo, nos apresenta importantes mudanças espaciais devido ao movimento. Movimento cíclico que ocorre também na hidrosfera, por meio das mudanças de estado físico da água, e na atmosfera, que faz soprar correntes de ar sobre todo o planeta – ora brisa leve, ora ciclones intempestivos.

Foi o tempo e o movimento também que fizeram surgir, nesse pontinho azul do espaço, a vida. Vida que evoluiu de seres unicelulares simples, para complexos organismos que interagem de forma equilibrada. Tudo que estes seres mais simples fizeram outrora, favoreceu o surgimento e evolução das espécies que atualmente co-habitam este planeta. Nós, humanos, também somos frutos dessa interação e, portanto, parte deste equilíbrio e responsáveis por ele. Aprendemos, de forma intrínseca, com todas as demais espécies que nos antecederam. Se algum ancestral dos anfíbios não tivesse tentado sair da água há bilhões de anos atrás, não respiraríamos por pulmões hoje. Se, antes disso, as plantas não capturassem o excesso de gás carbônico da atmosfera e o transformasse em gás oxigênio, não respiraríamos como hoje e, nem teríamos a importantíssima camada de ozônio que nos protege dos efeitos nocivos da radiação solar.

Com bactérias microscópicas, compartilhamos características comuns de estrutura e reprodução celular. Temos um ciclo de vida comum à protozoários e algas. Dependemos de nutrientes metabolizados por outros seres vivos, como os fungos; e reagimos à estímulos como uma simples minhoca ou uma gigante baleia-azul. Como primatas que somos, também evoluímos ao longo do tempo, aprendendo com o que vimos e nos era útil. Criamos ferramentas que nos serviam à diferentes funções, inicialmente as mais basais – como nos alimentar, fugir do frio, dos predadores e reproduzir – mas avançamos nos nossos desejos. Talvez, como no livro de Jared Diamond[1], incorporamos hábitos de outros seres por observação, tentativas e erros e fomos criando uma tecnosfera mutável e mais ágil.

Da idade da pedra lascada ao uso do fogo, da criação da linguagem e do cálculo às armas, do uso de armas químicas aos agrotóxicos, do calçado individual para um conforto anatômico no andar bípede à criação de eficientes meios de transporte coletivos, sempre tivemos muitos aprendizados.Estes, transmitidos pela oralidade e pela escrita, mas também pela observação e exemplo, produziram a tecnologia e seus vínculos. Como bem disse Paris (2002,p. 104)[2], o “Homo faber não só vai dilatando o âmbito e a perfeição de sua técnica, mas iluminando o Homo sapiens”.

Nosso fazer e nossa prática foi se aperfeiçoando e criando uma tecnologia que não serve mais apenas para seu sentido etimológico (“tecno” + “logos” = estudo da técnica, com as habilidades do fazer e os modos de produzir alguma coisa), mas passa para um sentido de exploração ou de emancipação no âmbito das relações sociais determinadas historicamente. A tecnologia, ora aliada à ciência, não só trouxe menor esforço e trabalho ao homem, em menos tempo, mas também aplicou uma lógica de que a natureza pode ser explorada a qualquer custo e de forma crescente.

Para manter-se e prosseguir, o sistema capital-tecnológico fundou-se, segundo Mèszàros (2002)[3], num metabolismo do desperdício, da obsolescência planejada, do desenvolvimento do complexo militar e suas armas, da destruição da natureza, e da produção de trabalho supérfluo, com desemprego em massa. Os diferentes sistemas políticos também contribuíram para isso, nos distintos espaços e ao longo do tempo, sem atentar à sustentabilidade das futuras gerações.

Sustentabilidade essa, que repousa no equilíbrio entre três pilares base – ambiental, social e econômico – defendido pela primeira vez no Relatório de Brundtland, em 1987[4]. Segundo este documento-referência, o desenvolvimento sustentável “deve responder às necessidades do presente sem comprometer a capacidade das gerações futuras de responder às delas”. Assim, deveria-se atentar para uma nova forma de governar, que repouse sobre seis princípios fundamentais:

  • Princípio da precaução (não esperar o irreparável para agir);
  • Princípio da prevenção (é melhor prevenir que remediar);
  • Princípio da economia e da boa gestão (sabendo usar não vai faltar);
  • Princípio da responsabilidade (quem degrada deve recuperar);
  • Princípio da participação (todos estamos envolvidos, todos decidimos, todos somos protagonistas); e
  • Princípio da solidariedade (legar um mundo viável às gerações futuras). (FUNDAÇÃO NICOLAS HULOT, 2008).[5]

É inegável, frente a este conceito, avaliar o papel que damos às tecnologias ao longo do tempo e em diferentes espaços e grupos sociais. Refletir sobre os benefícios do plástico, por exemplo, na impermeabilização de alimentos e no transporte de compras, mas também nos seus riscos à saúde socioambiental, desde sua concepção, cadeia produtiva e descarte.

Devemos fazer uso desses aprendizados para melhorar a tecnologia, fazendo com que de fato se torne uma extensão de sentidos e membros humanos. Que ela possa contribuir para a melhoria de sua condição de vida e para o desenvolvimento de suas qualidades propriamente humanas, cuidando da vida e, por consequência, das bases materiais e ambientais da mesma.

Isso deveria ser compreendido por todos, sobretudo neste momento de pandemia e risco iminente à vida. Porém, nos Estados Unidos e aqui mesmo no Brasil (seu subjugado país colonial), a história da tecnologia pela Ciência é negada e as mazelas das desigualdades se acentuam ainda mais – na contramão do resto do mundo. A política, fundamental ao equilíbrio entre as bases da sustentabilidade, dá lugar à politicagem barata, que brinca com a vida das pessoas e o futuro de um país inteiro. Desmatamento crescente e morte de indígenas por mineradores, recebe anistia; desvios de verbas destinadas à compra de respiradores mecânicos são apoiados pelo incentivo ao consumo de medicamentos incertos; fake news são externadas à revelia e a sociedade fica num misto de sobrevivência e incertezas, vitimada por um inimigo invisível que só poderá ser combatido, ora vejam, pela própria ciência e sua tecnologia.

Que esse período de isolamento social nos sirva para nos tornarmos mais humanos. Que o normal não volte mais, mas que possamos construir uma nova sociedade, mais diversa e responsável. Que as desigualdades deem lugar à colaboração e que a sustentabilidade seja a nova onda de ação.

 

[1]DIAMOND, J. Armas, germes e aço: os destinos das sociedades humanas. Rio de Janeiro: Record, 2013.

[2]PARIS, C. O Animal Cultural. São Carlos: Editora da UFSCAr, 2002.

[3]MÈSZÀROS, I. Para Além do Capital. Campinas: Boitempo, 2002.

[4]BRUNDTLAND, G. Relatório Brundtland. Our Common Future: United Nations, 1987.

[5]FUNDAÇÃO NICOLAS HULOT. ARGEL, Martha (Adapt.). Ecoguia: guia ecológico de A a Z. São Paulo: Landy Editora, 2008. 166p.

 

 

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