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ARTIGO: O livro na minh'alma! É difícil de imaginar sua ausência

Publicação:

Dia Mundial do Livro é comemorado no dia 23 de abril.
Dia Mundial do Livro é comemorado no dia 23 de abril.

Por: Ana Maria Bueno Accorsi

Professora da Uergs e coordenadora do Curso de Letras: Língua Portuguesa e Literaturas de Língua Portuguesa.

 

Oh! Bendito o que semeia

Livros à mão cheia

E manda o povo pensar!

O livro, caindo n'alma

É germe – que faz a palma,

É chuva – que faz o mar!

Castro Alves(1847-1871)

 

Há aqueles que não podem imaginar o mundo sem pássaros;

Há aqueles que não podem imaginar o mundo sem água;

Ao que me refere, sou incapaz de imaginar um mundo sem livros.

Jorge Luis Borges (1899-1986)

E se me perguntassem sobre o Livro como parte de minha existência? Responderia pensando sobre muitos... Simples assim. Como junto aos Outros numa só humanidade em sua (in)dependência.

Imaginem se cada geração tivesse de refazer todos os seus caminhos para trilhar o conhecimento e a cultura acumulados durante os milhares de anos em que nós, seres humanos, andamos pelo planeta e alhuressem que houvesse quaisquer registros do que seus antepassados fizeram? Teríamos, em cada momento, de criar histórias que trouxessem respostas às nossas mais simples perguntas sobre tudo o que nos cerca, desde os fenômenos da natureza a como nos ajustarmos a essa mesma natureza para garantir nossa sobrevivência. Tábula rasa a cada cem anos...

Se não andamos por essa trilha sem rumo é porque a necessidade de registrar nossas crenças, nossas descobertas, nossas culturas, nossas histórias e nossa História faz parte do estabelecimento de nossa continuidade como humanidade. Ao longo de nossa existência, como seres humanos,vimos utilizando os mais diferentes tipos de materiais para registrar a nossa passagem pelo planeta e difundir conhecimentos e experiências: tijolos, cascas de árvore, tábuas de madeira, papiro, pergaminho até o papel.

Temos sido incríveis! Para difundir a cultura helenística, criamos um dos primeiros centros de pesquisa e de conhecimento, no mundo ocidental, na cidade de Alexandria, no antigo Egito, no século III a.C.  Junto a esse centro, criamos um complexo para abrigar um grande número de rolos de papiro: a Biblioteca de Alexandria. Chegamos a abrigar nela entre trinta mil e setecentos mil volumes literários, acadêmicos e religiosos. Mais do que ser apenas um repositório de obras, a transformamos num grande polo de atividade intelectual durante séculos. Orgulhamo-nos dessa obra, pois, além de representar, em seu tempo, o espaço de valorização do conhecimento escrito, inspirou a criação de outras bibliotecas e a proliferação de manuscritos. Assim vamos deixando migalhas de pão e pedrinhas para orientar quem nos segue em nosso caminho humano.

Desde esses tempos, quando entramos em uma biblioteca, por menor que seja seu espaço e acervo, nos regozijamos por saber que ela guarda, entre seus muros e paredes, o desenvolvimento e a inovação do conhecimento humano.

Importante: não paramos na guarda e na preservação da sabedoria. A mais extraordinária forma de registro, que vem dar um novo impulso à preservação do pensamento, é a invenção do processo de impressão com caracteres móveis, por Johannes Guttenberg (1397-1468), no século XV e com ela, o que hoje chamamos de Livro. Em 1448, na pequena cidade de Mogúncia, na Alemanha, Guttenberg dá início a uma sociedade comercial com Johann Fust e ambos fundam a “Fábrica de Livros” (nome original Werkder Buchei).

A partir daí, o mundo não é mais o mesmo. Por meio do Livro, expandimos o conceito de globalização do conhecimento: cultura, ciência, línguas, arte, história e literatura. Por meio da fabricação do Livro, atingimos a massificação da informação e democratização do pensamento.  Como consequência dessa massificação, tivemos de democratizar a educação de mais e mais seres humanos ao redor do mundo.

Por isso, temos todos de homenagear o Livro.

Vejamos um pouco mais de nossa história humana: a origem do Dia Mundial do Livro (e do Direito do Autor) remonta a 1926. Acredite-se ou não, no dia 23 de abril de 1616 morrem Cervantes, Shakespeare e Inca Garcilaso de la Vega. Também em outros 23 de abril nasceram – ou morreram – outros escritores importantes como Maurice Druon, K. Laxness, Vladimir Nabokov, Josep Pla o Manuel Mejía Vallejo. Por este motivo, esta data tão simbólica para a literatura universal, foi escolhida pela Conferência Geral da UNESCO para fazer uma homenagem mundial ao livro e a seus autores. Este dia traz-nos alento, em especial aos mais jovens, para descobrirmos o prazer da leitura e respeitar a contribuição insubstituível dos criadores do progresso social e cultural.

Mais do que o alcance que assume a tecnologia da informação, mesmo em nossos dias, o Livro alcança a todos, em todos os lugares e em todas as horas. Aponta-nos nossa realidade e, sem dúvida, nos revela em cada página os caminhos trilhados pela humanidade.

Nestes momentos tão difíceis que ora vivemos, o Livro tem sido nosso companheiro de todas as horas no confinamento obrigatório – para nos salvar, fazendo-nos chuva - que faz o mar e incapazes de imaginar um mundo sem livros.

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